Wesllen Santos tinha 18 anos e trabalhava como mototaxista no Complexo do Alemão quando sua imagem rodou o país. O corpo de Wesllen foi fotografado diversas vezes estirado em um carrinho de mão. Foi a maneira encontrada por seus familiares para retirá-lo da favela onde vivia durante o intenso tiroteio do dia 18 de setembro de 2019.
Naquela manhã, a Polícia Militar anunciou mais uma “operação contra o tráfico de drogas" e para retirar bases antigas da UPP no Complexo do Alemão.
CPX DO ALEMÃO: No Vídeo um das bases da UPP, Localizada na Rua Canitar Prox a Quadra.
— Informações RJ (@Informacoes_RJ) 18 de setembro de 2019
Informações ainda ( NÃO CONFIRMADAS), da Retirada da Base.
Sem mas Informações ... pic.twitter.com/DMSdhZ7rUR
Segundo os moradores, os primeiros tiros foram ouvidos por volta das 5h30. Policiais da UPP e do Comando de Operações Especiais entraram na Fazendinha, Nova Brasília, Grota, Canitar e outras localidades do Alemão, sem especificar se havia mandados de prisão em aberto.
Ainda nos primeiros momentos da operação, o cabo da PM Felipe Brasileiro Pinheiro, 34, foi atingido com dois tiros no peito e levado ao hospital Getúlio Vargas. Depois disso, o tiroteio intensificou-se e cinco civis foram mortos. Apenas dois foram identificados: Wesllen Santos, o mototaxista, e Luiz Claudio Nunes Cardoso, 29. O segundo foi apontado pelos militares como autor dos tiros que atingiram o policial.
Wesllen foi encontrado baleado por amigos e familiares no Areal. Ele não foi socorrido após ser atingido, mas seus familiares ainda tentaram levar para a UPA quando ele foi encontrado.
Grupo de moradores transporta corpo em carrinho de mão.
Baleados foram levados pelos próprios moradores ao hospital.
A ação da polícia naquele dia ficou marcada pelo “caveirão voador”, uma das práticas mais violentas da polícia do Rio de Janeiro: helicópteros blindados atiraram do alto em direção à comunidade, em horário escolar.
06h34 - Helicóptero blindado da PM chegou neste momento no Complexo do Alemão e há uma intensa troca de tiros ⚠️ pic.twitter.com/WpO0mNcFqB
— Voz das Comunidades 📰 (@vozdacomunidade) 18 de setembro de 2019
— Voz das Comunidades 📰 (@vozdacomunidade) 18 de setembro de 2019
Pais desistiram de enviar seus filhos às escolas e creches — 14 unidades não abriram — e doentes ficaram sem atendimento em uma das clínicas da família do Complexo.
Ao final da chacina, a PM apreendeu um fuzil, quatro pistolas e cerca de 200kg de drogas.
Familiares, colegas de profissão e amigos de Wesllen não quiseram falar com a imprensa — nem quatro anos depois. Ninguém foi responsabilizado pela morte do jovem.
O cabo Pinheiro também não sobreviveu. Ele ficou internado em estado grave por quatro dias até morrer.