Vila do Pinheiro  •  2018 7 mortos

A caminho da escola

Uma das imagens mais conhecidas da camiseta da rede pública de ensino do Rio de Janeiro é símbolo da dor de uma mãe. Marcos Vinícius, 14 anos, estava a caminho da escola quando foi vítima de uma chacina policial em 2018. Desde então, sua mãe, Bruna Silva, leva consigo a camiseta manchada do filho. Marcos é um dos quase 300 meninos e meninas de até 18 anos baleadas durante operações policiais no Rio desde 2016.

helicóptero com luzes menino correndo e chorando

Ele não viu que eu estava com roupa de escola, mãe?”

perguntou Marcos à mãe depois de baleado. Naquele dia, sete pessoas foram mortas no Complexo da Maré. Os corpos chegaram ao hospital federal de Bonsucesso sem identificação. Os nomes jamais foram divulgados.

À procura
de suspeitos

A operação policial que acabou na morte de Marcos aconteceu depois que o inspetor Ellery de Ramos Lemos foi morto em Acari. A polícia civil informou que foi à Maré procurar suspeitos envolvidos no assassinato.

A Intervenção Federal na segurança pública do Rio de Janeiro tinha pouco mais de quatro meses quando o caso aconteceu. Dois blindados do Exército foram usados pela polícia civil para entrar na favela. Um helicóptero deu cobertura.

veículo blindado da polícia

Bruna Silva é uma figura emblemática da luta das mães que perderam os filhos para a violência armada do Rio de Janeiro. Nas mãos de Bruna quase sempre está a camiseta da rede municipal de ensino, usada pelo filho Marcos Vinicius no dia em que foi atingido por um tiro. A roupa, branca com detalhes azuis e o símbolo da prefeitura, ficou manchada de vermelho.

Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, foi morto no dia 20 de junho de 2018, durante uma ação da Polícia Civil na Vila do Pinheiro, no Complexo da Maré. Ele estava a caminho da escola quando foi atingido. O disparo entrou pela lombar e saiu na região do umbigo.

No dia 12 de junho, 8 dias antes da morte de Marcos Vinicius, uma operação da Polícia Civil em Acari, na zona norte, terminou com a morte do policial civil Ellery Ramos de Lemos, investigador da DCOD (Delegacia de Combate às Drogas), atingido por um tiro na cabeça.

Jornais à época disseram que a operação na Vila do Pinheiro, comandada pela mesma Polícia Civil a qual pertencia o agente morto em Acari, seria para procurar suspeitos envolvidos no assassinato. A suspeita é de que eles teriam saído de Acari para se esconder em outra favela.

A intervenção federal militar no Rio de Janeiro tinha pouco mais de quatro meses quando o caso aconteceu. Dois blindados do Exército foram usados pela Polícia Civil para entrar na favela. Um helicóptero deu cobertura.

A operação na Vila do Pinheiro, na Maré, deixou outros seis mortos, além de Marcos Vinicius. Os corpos chegaram ao hospital federal de Bonsucesso sem identificação. Os nomes jamais foram divulgados.

reprodução de jornal mostrando a história

Jornal mostra beijo de Bruna no rosto do filho durante velório.

manifestação em escola estadual

Amigos da escola homenageiam Marcos Vinícius

Vai meu filho, vai com Deus. Corre pra dar tempo. E ele foi embora. Aí o Estado me devolve ele alvejado.”

Bruna Silva, mãe de Marcos Vinícius

Marcos Vinicius não se arriscou: ele estava no caminho diário da escola quando foi atingido. “Era um lugar que, antes de eu deixar meu filho ir para a escola sozinho, fazia aquele caminho com ele. É a última rua da comunidade. É uma rua onde a gente não vê venda de droga, não vê gente armada e é do lado da Linha Vermelha. Ali era o caminho dele todo dia”, diz Bruna.

Marcos Vinicius saiu e passou no apartamento de um amigo. Neste momento, helicópteros começaram a atirar.

“Ele tinha parado na casa de um amigo de escola, um menino que se fez vivo, porque naquele dia os dois poderiam ter morrido. A mãe dele falou que eles perderam a hora e ficaram conversando. Depois, o Marcos Vinicius e o amigo tentaram voltar no sentido oposto ao caminho que faziam. Quando ele ameaçou sair, tomou um tiro vindo do helicóptero”.

Marcos Vinicius foi velado no Palácio da Cidade, em Botafogo, residência oficial dos prefeitos do Rio. Sobre o caixão, a camiseta da rede municipal de ensino, suja de sangue.