Bruna Silva é uma figura emblemática da luta das mães que perderam os filhos para a violência armada do Rio
de Janeiro. Nas mãos de Bruna quase sempre está a camiseta da rede municipal de ensino, usada pelo filho
Marcos Vinicius no dia em que foi atingido por um tiro. A roupa, branca com detalhes azuis e o símbolo da
prefeitura, ficou manchada de vermelho.
Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, foi morto no dia 20 de junho de 2018, durante uma ação da Polícia Civil
na Vila do Pinheiro, no Complexo da Maré. Ele estava a caminho da escola quando foi atingido. O disparo entrou
pela lombar e saiu na região do umbigo.
No dia 12 de junho, 8 dias antes da morte de Marcos Vinicius, uma operação da Polícia Civil em Acari, na zona
norte, terminou com a morte do policial civil Ellery Ramos de Lemos, investigador da DCOD (Delegacia de
Combate às Drogas), atingido por um tiro na cabeça.
Jornais à época disseram que a operação na Vila do Pinheiro, comandada pela mesma Polícia Civil a qual
pertencia o agente morto em Acari, seria para procurar suspeitos envolvidos no assassinato. A suspeita é de
que eles teriam saído de Acari para se esconder em outra favela.
A intervenção federal militar no Rio de Janeiro tinha pouco mais de quatro meses quando o
caso aconteceu.
Dois blindados do Exército foram usados pela Polícia Civil para entrar na favela. Um helicóptero deu
cobertura.
A operação na Vila do Pinheiro, na Maré, deixou outros seis mortos, além de Marcos Vinicius. Os corpos
chegaram ao hospital federal de Bonsucesso sem identificação. Os nomes jamais foram divulgados.
Jornal mostra beijo de Bruna no rosto do filho durante velório.
Amigos da escola homenageiam Marcos Vinícius
“
Vai meu filho, vai com Deus. Corre pra dar tempo. E ele foi embora. Aí o Estado me devolve ele
alvejado.”
Bruna Silva, mãe de Marcos Vinícius
Marcos Vinicius não se arriscou: ele estava no caminho diário da escola quando foi atingido. “Era um lugar
que, antes de eu deixar meu filho ir para a escola sozinho, fazia aquele caminho com ele. É a última rua da
comunidade. É uma rua onde a gente não vê venda de droga, não vê gente armada e é do lado da Linha Vermelha.
Ali era o caminho dele todo dia”, diz Bruna.
Marcos Vinicius saiu e passou no apartamento de um amigo. Neste momento, helicópteros começaram a atirar.
“Ele tinha parado na casa de um amigo de escola, um menino que se fez vivo, porque naquele dia os dois
poderiam ter morrido. A mãe dele falou que eles perderam a hora e ficaram conversando. Depois, o Marcos
Vinicius e o amigo tentaram voltar no sentido oposto ao caminho que faziam. Quando ele ameaçou sair, tomou um
tiro vindo do helicóptero”.
Marcos Vinicius foi velado no Palácio da Cidade, em Botafogo, residência oficial dos prefeitos do Rio. Sobre
o caixão, a camiseta da rede municipal de ensino, suja de sangue.