Em 2 de junho de 2023 o Corte Oito, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, foi palco de mais um desses eventos que já viraram triviais no Rio de Janeiro. Policiais faziam patrulhamento na área e, de acordo com sua versão, viram um grupo armado e tentaram abordá-lo. Foi aí que teria começado a troca de tiros.
Pelo lado da polícia, Roberto Rino de Souza, 39 anos, foi morto com um tiro. Ele era 3° sargento e estava lotado no 15° BPM (Duque de Caxias). Rino, policial militar desde 2009, deixou quatro filhos. Felipe Moura Cardoso Soresini, 38 anos, era sargento da PM e tomou tiros no ombro e no abdômen. Chegou a passar por cirurgia no hospital municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo, em Caxias. Um cartaz de doação de sangue chegou a ser divulgado, mas Soresini morreu à noite.
No mesmo dia, no mesmo hospital, chegaram outros três homens com marcas de tiros. Eles também morreram. A polícia não informou os nomes, a imprensa também não procurou saber e a cidade seguiu seu curso como de costume.
“Uma das maiores características da Baixada Fluminense é o silenciamento. Passamos por situações semelhantes às das favelas do Rio, mas agravadas pela invisibilidade. A gente não é notado”, diz uma moradora do Corte Oito, liderança do complexo da Mangueirinha, que não será identificada.
“Os números oficiais não correspondem ao que acontece aqui. Não há visibilidade em tempo real nas localidades. Quando há uma operação grande na capital, há uma articulação de coletivos e instituições sediadas nessas localidades, há também um olhar da imprensa. A gente não tem essa visibilidade. Às vezes, nos rendemos ao silenciamento porque é o único instrumento para nos mantermos vivos. Temos esperança de que um dia nos percebam”, conclui a moradora.