Complexo do Chapadão  •  2017 4 mortos

Tróia pré-chacina

uma pessoa limpando sangue das escadas

No dia 13 de fevereiro de 2017, um grupo de policiais militares invadiu a casa de dois idosos numa das principais esquinas do Chapadão. Era por volta de 13h e os agentes ficaram de tocaia no local até perto das 19h. Durante esse período, o casal ficou trancado em um quarto e o cachorro deles, em outro. Os moradores não podiam sair e passaram a tarde sob o poder dos policiais.

Na sala da casa, os agentes passaram horas esperando pelo momento exato para disparar em uma rajada contra um bar que ficava logo à frente. No local, estava um grupo de homens. Entre eles, Carlos Eduardo Barros de Oliveira, conhecido como Grisalho, um dos chefes do tráfico no local à época. Grisalho teria sido responsável por ordenar as mortes do cabo do Exército Jorge Fernando de Souza, 30, e do soldado Cleiton Felipe Massena, 22, um ano antes.

O que aconteceu no Chapadão naquele dia é popularmente conhecido no Rio de Janeiro como Tróia. A tática, ilegal, é uma maneira utilizada por policiais para surpreender membros de grupos armados. Eles invadem casas e montam uma tocaia. Os moradores dessas casas vivem momentos de terror e correm risco de vida.

Tentamos muitas vezes conversar com o dono do imóvel no Chapadão que ficou refém dos policiais naquela tarde, mas ele não quis dar entrevistas, mesmo na condição de anonimato de sua identidade e de seu imóvel. O medo persiste seis anos depois.

A Tróia daquela noite deixou quatro homens mortos no Chapadão. Eles nunca foram identificados. Grisalho, no entanto, sobreviveu e foi preso por tráfico de drogas. Os policiais envolvidos na ação afirmaram que foram encontrados com ele — e outros dois homens — armas e drogas.

No entanto, as versões dos agentes eram contraditórias e levaram o Ministério Público a pedir a absolvição por falta de provas. Grisalho e os outros homens sobreviventes da ação foram soltos em dezembro de 2017.

Não há — e não houve — qualquer processo contra Grisalho pelo homicídio dos militares. Aquelas mortes foram resolvidas com a vingança. Assim como não houve investigação ou condenações pelas mortes dos quatro jovens no Chapadão. A Tróia na residência do casal de idosos também não foi investigada.